Notícia
09.10.2023Ignacio Galán: "O combate às emissões de CO2 é a única saída para a habitabilidade neste planeta"
Sob o título "Vamos dar um futuro ao nosso futuro", o jornal La Vanguardia publica um artigo de opinião do presidente executivo da Iberdrola, Ignacio Galán, após sua participação na Semana do Clima em Nova York. O artigo original é reproduzido abaixo:
Há apenas uma semana, na sede das Nações Unidas em Nova York, ouvi o secretário-geral da organização, António Guterres, lançar um dardo direto na consciência do mundo para alertar sobre a indolência com que a crise climática está sendo tratada. "A humanidade abriu as portas do inferno", disse Guterres sem rodeios, referindo-se ao número crescente de desastres naturais ligados ao aquecimento global. Os chefes de Estado e de governo, representantes da sociedade civil e empresários convidados para a Semana do Clima também puderam ouvi-lo dizer que, apesar do progresso, "ainda vemos muitas empresas de combustíveis fósseis, proprietários de ativos e outras empresas que parecem estar investindo com a mesma lógica daqueles que, no início do século XX, apostavam em carroças puxadas por animais, achando que isso lhes garantiria lucros máximos.
O combate às emissões de CO2 é a única saída para a habitabilidade neste planeta. E não temos outro caminho. Se quisermos que a humanidade tenha um futuro, os governos e as empresas devem mudar o ritmo hoje, juntos, com ambição e compromisso. Os últimos dois anos nos mostraram que esse incentivo perverso de curto prazo ainda existe para as empresas de combustíveis fósseis. Mas devemos estar cientes de que as medidas que tomarmos nos próximos cinco anos moldarão a vida de milhões de pessoas ao longo deste século.
Infelizmente, apesar dos pedidos diários de ajuda dos ecossistemas, ainda há uma lacuna considerável entre palavras e ações. Havia 195 signatários do Acordo de Paris, mas, até o momento, menos de 30 apresentaram regulamentações domésticas para alcançar emissões líquidas zero. E mais de um terço das maiores empresas do mundo ainda não definiu metas de redução de emissões.
Precisamos nos livrar da postura teórica e começar a trabalhar em medidas que tenham efeito prático. O aumento da conscientização não é mais suficiente. Tampouco é suficiente assumir compromissos. Precisamos apresentar resultados. As manchetes dessas cúpulas devem ser ações concretas com impactos mensuráveis, e não apenas boas intenções.
As emissões da Iberdrola já são 75% menores do que as das empresas elétricas europeias. Trimestre após trimestre, informamos sobre elas com total transparência. E não vamos parar por aí. Devido à realização da Semana do Clima, fomos uma das primeiras empresas do mundo a apresentar um Plano de Transição Climática à ONU, totalmente alinhado com as recomendações do Painel de Especialistas das Nações Unidas.
Mas precisamos agora que outros grandes impulsionadores da economia coloquem em prática um plano de transição climática abrangente e viável. Projeta-se que mais de 90% das empresas que já estabeleceram metas de emissões líquidas zero não alcançarão suas metas se não dobrarem, pelo menos, a taxa de redução até 2030.
É verdade que a ação do governo é essencial para incentivar as reduções de emissões, mas, para atingir essas metas, a maior parte do trabalho deve ser feita pelas empresas de todos os setores.
Cabe a nós, empresas, mudar nossos programas de investimento ou nossos padrões de produção e consumo. Mostramos que sabemos como inovar em produtos que não apenas atendem às necessidades atuais de nossos clientes, mas também antecipam tendências futuras. Somos as empresas que nos equipam com o talento e os recursos para podermos executar nossos planos com autonomia e rapidez. E todos os dias fazemos acordos e alianças com outras empresas, instituições e associações de todos os tipos.
No setor de energia, o caminho a seguir é claro: acelerar a eletrificação investindo em infraestrutura de geração renovável, redes, armazenamento e hidrogênio verde. Ao antecipar o desenvolvimento de energia limpa, evitamos agravar as consequências do aquecimento global em nossas sociedades, aumentamos nossa autossuficiência e segurança de abastecimento e geramos novas oportunidades de industrialização e emprego.
É por isso que, nos últimos meses, foi apresentada a meta de triplicar a capacidade renovável globalmente até 2030 e atingir as metas de 2050, vinte anos antes do previsto. E isso pode ser feito. As energias renováveis já são o principal vetor de crescimento da geração global de eletricidade. A revolução tecnológica que vivenciamos nos últimos anos fez com que, por exemplo, uma nova instalação eólica agora exija três vezes menos investimento do que uma instalação movida a carvão, além de evitar os custos de compra de combustível e direitos de emissão.
Para atingir esse objetivo, os setores público e privado devem andar de mãos dadas e unir forças. Com uma política energética clara, com objetivos definidos de médio e longo prazo e com regulamentação adequada. Mas também com empresas determinadas a assumir um compromisso e, acima de tudo, a cumprir. Porque não podemos nos esquecer de que do outro lado da mesa não estão os governos, nem mesmo a sociedade atual. São as gerações futuras e o futuro do planeta. Vamos dar um futuro ao nosso futuro.