Notícia

09.10.2020

O programa Migra da Ong SEO/BirdLife acumulou informações de 1.173 aves de 33 espécies ao longo de 10 anos

  • Desde 2011, a SEO/BirdLife (Sociedade Espanhola de Ornitologia) em colaboração com a Fundação Iberdrola España, estuda a migração e a ecologia espacial das aves através da marcação com dispositivos de monitoramento remoto
  • Toda essa informação, compilada durante 10 anos, só é possível graças a centenas de colaboradores e entidades espanholas e estrangeiras
  • Os resultados são publicados em uma coleção de monografias digitais e em diversas revistas científicas e de divulgação, permitindo melhorar as medidas de conservação das espécies
  • No último sábado, dia 10 de outubro, comemorou-se o World Migratory Bird Day 2020 (Dia Mundial das Aves Migratórias), um acontecimento que ocorre em maio e outubro.

As aves migratórias são as mais complicadas de conservar, pois seu futuro depende da gestão da espécie nos diferentes países pelos quais passam durante seu ciclo vital. Por isso, em primeiro lugar, para poder conservá-las devemos saber onde estão localizadas a cada momento do ano.

Em 2011, a SEO/BirdLife lançou o programa Migra, em colaboração com a Fundação Iberdrola España, para analisar os movimentos e a migração das aves que existem na Espanha e conhecer em detalhes as áreas utilizadas por cada espécie e sua ecologia espacial ao longo de seu ciclo anual. Portanto, comemora-se agora com grande sucesso os 10 primeiros anos de funcionamento do programa que realizou estudos de mais de 30 espécies diferentes.

Atualmente, o programa Migra possui informações de 1.173 aves marcadas de 33 espécies diferentes, com uma base de dados de milhões de localizações graças a centenas de colaboradores e entidades colaboradoras espanholas e estrangeiras. Além dos movimentos, essas marcações permitiram conhecer vários problemas de conservação que as aves enfrentam no território espanhol. Não foram poucas as aves marcadas que morreram devido a disparos, eletrocussões ou envenenamentos, informações que permitem abordar os problemas onde eles estão acontecendo.

“Ter dados científicos permite agir com eficiência e rigor para a conservação da natureza. Graças ao conhecimento do estado das aves, medimos a saúde de nosso planeta”, indica Asunción Ruiz, diretora executiva da SEO/BirdLife. “Há 10 anos trabalhamos com o programa Migra apostando claramente na ciência e na tecnologia e, em virtude de todos os dados compilados, sabemos como as mudanças climáticas e a destruição do habitat afetam nossa biodiversidade. É hora de agir: as aves estão mostrando isso, elas nos dão as informações necessárias para enfrentar as principais crises do século XXI”, conclui Ruiz.

A Fundação Iberdrola España colabora com esse programa no âmbito de sua atividade de apoio à biodiversidade, uma das suas principais áreas de atuação.

Nesse sentido, Fernando García, presidente da Fundação Iberdrola España, afirma que “está muito satisfeito com o programa Migra, pois se tornou uma plataforma para várias entidades que compartilham, como nós, o interesse comum de coletar informações rigorosas que contribuam para a conservação da biodiversidade e que estejam à disposição de todos de forma transparente e gratuita”.


Colaboração e divulgação nacional e internacional

Tudo isso foi possível graças à colaboração de mais de 400 colaboradores e mais de 50 entidades colaboradoras na Espanha e no estrangeiro ao longo desses dez anos. A estreita colaboração existente entre tantas organizações e especialistas em aves possibilitou o sucesso do programa Migra.

Uma parte fundamental do projeto é a publicação e divulgação dos resultados obtidos. Até agora foram publicadas cinco monografias em formato digital que abrangem a migração, o movimento e a ecologia espacial. Os dados foram obtidos através dos resultados do programa Migra sobre o alcatraz-de-Audouin, a águia-calçada, a cegonha-branca, a pardela-de-bico-amarelo e o faisão-de-Bulwer e estão disponíveis no site da SEO/BirdLife. Além disso, foram publicados 14 artigos científicos em diversas revistas internacionais do gênero, alguns deles em meios tão prestigiados como a Evolution — a revista mais importante do mundo dedicada ao estudo da evolução orgânica e à integração dos diversos campos da ciência relacionados ao assunto —, sobre a evolução da migração do andorinhão-comum, assim como inúmeros artigos de divulgação e resenhas em publicações sobre natureza e meio ambiente espanholas e internacionais.


A tecnologia a serviço da conservação

As aves estão sendo marcadas com os mais modernos dispositivos de monitoramento remoto para acompanhar seus movimentos e sua ecologia espacial (emissores satélite e GPS-GSM, data logger-GPS e GPS-GSM, geolocalizadores, nano-GPS e microdataloggers), o que permite conhecer a posição da ave anilhada várias vezes por dia. Além de conhecer a posição da ave ao longo de todo o ano, essas tecnologias também permitem saber quanto tempo os indivíduos permanecem anilhados em suas áreas de nidificação e invernada, quando iniciam sua migração, por onde a fazem, que pontos e habitats utilizam para repor as energias, sua velocidade, altitude, etc. e relacionar tudo isso com agentes meteorológicos, geográficos ou de qualquer outro tipo que condicionem seus movimentos.


Conhecer para conservar

As aves migratórias não conhecem fronteiras, por isso sua preservação futura depende da conservação das áreas onde estejam a cada momento do ano.

Através do programa Migra foi possível saber que as águias-calçadas invernam na faixa territorial do Sahel e repetem as áreas de invernada todos os anos para retornarem ao seu mesmo território de nidificação, que não são áreas circulares, mas excêntricas, em função do habitat que circunda cada ninho. A cegonha-branca alterou sua estratégia migratória devido à mudança global provocada pela ação humana: a maioria dos adultos inverna agora na Península Ibérica e se alimenta em lixões e arrozais — novos habitats criados pelo ser humano nas últimas décadas —, enquanto os exemplares jovens continuam migrando para o Sahel. Nossos andorinhões-comuns invernam na África Central, das costas da Tanzânia e Moçambique para a República Democrática do Congo, e durante sua migração viajam mais de 20.000 quilômetros anualmente. O rolieiro-europeu passa o inverno na Namíbia e em Botsuana, a mais de 9.000 quilômetros de seus ninhos e, de acordo com a população faz uma viagem migratória diferente: as aves do leste atravessam o mar Mediterrâneo e o deserto do Saara em um roteiro bastante reto em direção ao sul, enquanto as aves do centro e oeste evitam o deserto circulando pela costa africana e o Sahel em um percurso mais longo, embora todas invernem na mesma área.

Os movimentos das aves são condicionados por inúmeros fatores. A descrição completa de todos os movimentos de cada espécie ao longo de um ciclo anual, e descrita nesse trabalho, oferece detalhes da biologia de cada uma delas, não só em relação ao processo de migração, mas também de seus movimentos durante a época de reprodução e em seus locais de invernada. Dessa forma, é possível contar com uma base de dados muito completa para estudar as alterações de comportamentos das aves, a partir de processos gerais e de larga escala como as mudanças climáticas ou perda de biodiversidade, assim como em pequena escala, que origina mortalidades em determinadas áreas devido ao uso excessivo de inseticidas, caça ilegal, perda de habitats ou infraestruturas mal concebidas.