Entrevista com Guillermo Martínez, Ayúdame3D
"Um professor do Quênia me disse que finalmente ia poder pegar um livro e um giz ao mesmo tempo durante suas aulas"
Transformação social Sociedade Solidariedade Entrevistas
Outubro de 2019. Tempo de leitura: 4 minutos
Ayúdame3D é um projeto criado na Espanha que oferece "trésdesis", braços impressos em 3D, para pessoas sem recursos de qualquer lugar do mundo. O objetivo é melhorar sua qualidade de vida através da inovação e das múltiplas possibilidades proporcionadas pelas novas tecnologias. Guillermo Martínez, um dos criadores desse projeto, nos conta um pouco mais sobre essa iniciativa e sugere que todos colaboremos com eles.
Guillermo Martínez, gestão de beneficiários e helpers3D no projeto Ayúdame3D.
Uma impressora 3D e o plástico mais comum, o PLA. Guillermo Martínez e o restante da equipe de Ayúdame3D não precisam de mais nada para melhorar a vida das pessoas. Seu último artefato denomina-se Trésdesis Vicky e se destina a pessoas sem cotovelo. Martínez, que antes se dedicava aos brinquedos, se encarrega da gestão de beneficiários e helpers3D em Ayúdame3D e já está na quinta edição do Digital Summit do Grupo Iberdrola no Campus de San Agustín del Guadalix (Madri) e nos incentiva a fazer doações ao projeto.
Em poucas palavras, o que é uma "trésdesis"?
Uma "trésdesis" é um braço impresso em 3D destinado a pessoas de qualquer lugar do mundo que o necessitam, mas não têm possibilidades de adquiri-lo.
As próteses em 3D já existiam. Como você entrou nesse mundo? Qual é o valor que vocês agregam?
Entrei no mundo da impressão 3D quase por acaso. Já faz tempo que estudo desenho 3D e queria aprender como funcionavam. Através da Internet, vi como existe gente que ajuda pessoas sem dedos e quis agregar valor. Por exemplo, desenvolvemos o primeiro braço para pessoas sem cotovelo que, apesar de não utilizar meios eletrônicos, permite que a pessoa possa pegar objetos.
O último modelo é diferente dos anteriores. A quem se destina? Vocês vão projetar mais modelos?
Trésdesis Vicky é um modelo para pessoas sem cotovelo. O nome de Vicky é por causa de um menino de um orfanato que visitei no Quênia. A ideia do projeto Ayúdame3D é evoluir, ou seja, quanta mais entregas fizermos melhor, assim como também pretendemos desenvolver novos tipos de artefatos.
Vocês não vendem as próteses, as mesmas são doadas através de seu projeto. Como vocês conseguem financiamento?
Há muita gente, muitas empresas e muitas entidades sociais que colaboram, por exemplo, através de seus programas de Responsabilidade Social Corporativa (RSC) e a verdade é que necessitamos desse impulso para poder dar continuidade ao projeto. Graças a esse esforço, estamos conseguindo chegar a mais de 150 pessoas por ano e já estamos presentes em 34 países.
Vocês utilizam PLA, o material plástico mais comum. Se alguém tiver uma impressora 3D, pode colaborar com vocês?
Temos pessoas com impressoras 3D que colaboram conosco em todo o mundo. Se alguém quiser se unir ao projeto, basta escrever-nos ou preencher os formulários que estão disponíveis no site
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A primeira viagem para entregar uma “trésdesis” foi ao Quênia: um amigo conhecia um orfanato e havia cinco pessoas na região que tinham essa necessidade. O que você sentiu quando viu a reação dessas pessoas?
Percebi que estávamos mudando um pouquinho a vida de algumas pessoas; principalmente, com nossa ajuda podem ser mais independentes em seu dia a dia. Lembro-me de um professor do Quênia que me disse que finalmente ia poder pegar um livro e um giz ao mesmo tempo durante suas aulas. Isso me abriu os olhos para dar continuidade ao projeto e criar Ayudáme3D para oferecer essa ajuda em todos os lugares do mundo.
Graças à colaboração de particulares, empresas e entidades sociais, conseguimos chegar a mais 150 pessoas
O que deve fazer uma pessoa que precise de uma de suas "trésdesis"?
"As pessoas podem entrar diretamente em contato conosco ou podem fazê-lo através das entidades sociais que nos ajudam e nos fornecem informações das pessoas que precisam de uma prótese".
Vocês também organizam oficinas para crianças. Em que consistem?
Temos o programa A3d:kids que levamos às escolas de toda a Espanha para fomentar os valores sociais das novas tecnologias entre as crianças. Elas mesmas imprimem um braço para alguém que precisa, pois assim, além de participarem do projeto, também se apercebem de que ajudar é muito fácil graças à impressão 3D e às novas tecnologias.
Vocês aplicam a tecnologia para melhorar a vida dos mais necessitados, dessa forma estão alinhados com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU?
Nosso projeto é muito transversal no âmbito do desenvolvimento sustentável, pois trabalhamos com as novas tecnologias para melhorar o mundo e a sociedade. Graças aos nossos braços algumas pessoas podem ter outra qualidade de vida, por exemplo, melhores oportunidades de trabalho.