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Entrevista com Agustín Delgado Martín, diretor de Tecnologia do Grupo Iberdrola

“A transição energética europeia só será bem-sucedida se a ambição for acompanhada de medidas concretas”

Redes eléctricas Energias renováveis

 

Dezembro de 2025. Tempo de leitura: 7 minutos

Se a Europa deseja garantir sua resiliência energética e competitividade até 2030, é urgente que a transição energética passe da ambição para a ação concreta. Também é necessário contar com uma infraestrutura digital modernizada, um marco regulatório robusto e uma transformação do talento humano. Isso é o que afirma Agustín Delgado Martín, diretor de Tecnologia do Grupo Iberdrola. O executivo concedeu esta entrevista antes do fórum Enlit Europe 2025, realizado em Bilbao de 18 a 20 de novembro, um encontro importante onde líderes, especialistas e inovadores do setor discutiram sobre o futuro da energia.

Agustín Delgado Martín, diretor de Tecnologia do Grupo Iberdrola.
Agustín Delgado Martín, diretor de Tecnologia do Grupo Iberdrola.

Como o setor energético europeu pode transformar uma ambição compartilhada em ação colaborativa?

A ambição que todos temos em comum se transforma em ação colaborativa quando a Europa adota uma abordagem holística e garante o alinhamento entre todas as suas estratégias, não apenas em no setor de energia, mas também em digitalização, inovação e indústria. A transição energética europeia só será bem-sucedida se a ambição for acompanhada de medidas concretas. Para alcançar isso, precisamos de: colaboração vertical e horizontal entre os principais atores em toda a cadeia de valor da energia, incluindo o setor público, os fornecedores de tecnologia e a indústria; uma visão comum que integre a energia aos planos e prioridades digitais e industriais, para que a Europa possa liderar em termos de competitividade, sustentabilidade e tecnologia; financiamento voltado para projetos inovadores em grande escala e ambientes de teste regulatórios; identificar projetos estratégicos dentro dos programas de investimento em infraestrutura e resiliência, incluindo redes inteligentes e sistemas de armazenamento; simplificar e acelerar instrumentos de política industrial, como os IPCEI, para impulsionar projetos críticos e promover a colaboração transfronteiriça.

"A inovação tecnológica e a transformação digital permitem à Iberdrola antecipar os desafios do setor, otimizar processos e oferecer soluções de alto valor para clientes, colaboradores e parceiros"

A inovação e a pesquisa e desenvolvimento (P&D) são o eixo central dessa transformação. A Europa deve promover a liderança tecnológica por meio de pesquisa colaborativa e pilotos em grande escala. A Iberdrola impulsiona a inovação aberta em colaboração com universidades, centros tecnológicos e grupos de interesse, aproveitando um profundo conhecimento das tecnologias para agregar alto valor aos seus negócios. Em um ambiente global marcado pela aceleração tecnológica e pela transição energética, a inovação tecnológica e a digitalização permitem antecipar desafios, otimizar processos e oferecer soluções de alto valor para clientes, colaboradores e parceiros. Dessa forma, passamos das palavras à ação e aceleramos a implementação real de soluções inovadoras.

O que a Europa deve fazer para ter uma energia competitiva e resiliente em 2030?

A Europa precisa acelerar o desenvolvimento de uma rede elétrica mais inteligente, robusta e digital, além de garantir que a infraestrutura física e digital evolua em paralelo para suportar sistemas energéticos ativados por IA. Até 2030, a competitividade e a resiliência dependerão de várias prioridades:

  • Incluir a eletricidade entre as indústrias estratégicas europeias. O setor é fundamental para eletrificar os transportes, a indústria e os sistemas de climatização, além de possibilitar aplicações de IA com maior impacto sistémico, como a gestão em tempo real da rede, a manutenção preditiva e a otimização da demanda.
  • Modernizar e digitalizar a infraestrutura de forma paralela. A Europa precisa de redes inteligentes, armazenamento em grande escala, sistemas descentralizados como microrredes e soluções energeticamente eficientes para centros de dados, a fim de integrar fontes renováveis e permitir operações escaláveis e seguras impulsionadas pela IA.
  • Preparar-se para novos usos intensivos em eletricidade. A demanda crescerá significativamente devido aos data centers, à inteligência artificial, à robótica e aos processos industriais eletrificados. Para atender a essa demanda, será necessário um planejamento antecipado e redes digitais e flexíveis.
  • Acelerar investimentos antecipados e interconexões. Programas coordenados e procedimentos mais ágeis são essenciais para reduzir gargalos e preparar a rede para as necessidades futuras.

Sem uma rede robusta, digital e interconectada, a Europa não será capaz de aproveitar totalmente a eletrificação, as energias renováveis e a inovação impulsionada pela IA, nem sustentar a competitividade de outros setores estratégicos.

Imagine que estamos em 2030. Como é o mix energético europeu?

O objetivo europeu estabelecido pelo Pacto Verde é atingir pelo menos 42,5% de energias renováveis. Em 2024, já se produzia 46,9% de eletricidade renovável, e as previsões para 2030 indicam que esse número ficará entre 50 e 57%. Além disso, entre 10% e 15% continuarão sendo de origem nuclear e menos de 1% virão do carvão. No entanto, tudo isso depende da vontade política de implementar medidas que promovam a eletrificação e os sistemas renováveis.

O setor energético está aproveitando ao máximo a tecnologia de IA atual?

A inteligência artificial tem tido um enorme impacto no sistema energético ao longo das últimas décadas. A Iberdrola utiliza IA há muitos anos em suas principais operações. O Meteoflow, baseado em algoritmos de aprendizado automático, é capaz de prever fenômenos meteorológicos — desde neve, temperatura ou humidade até incidência solar, força e direção do vento — para estimar melhor a geração renovável e otimizar as operações de manutenção de redes elétricas durante tempestades. A IA também é utilizada na gestão da rede para garantir que, quando ocorre uma falha, a área afetada seja imediatamente isolada para que outros clientes não sofram interrupções em seus serviços.

A Iberdrola desenvolveu novos produtos baseados em IA, como o Assistente Inteligente Avançado (ASA), que utiliza machine learning para otimizar o funcionamento conjunto de diferentes soluções inteligentes (veículo elétrico, autoconsumo solar e climatização). As ferramentas de IA generativa estão em fase inicial, mas já demonstram um grande potencial para automatizar grandes volumes de trabalho. No futuro próximo, elas complementarão a IA preditiva e operacional, melhorando a eficiência e a experiência do cliente em grande escala.

Qual será o papel da IA na estratégia de experiência do cliente da empresa?

O foco da Iberdrola no cliente levou à adoção da IA como uma tecnologia que permite oferecer mais e melhor informação. Diversificamos os serviços e oferecemos recarga de veículos elétricos, climatização doméstica, autoconsumo residencial e outros serviços energéticos conectados por meio de interfaces ágeis. As recomendações baseadas em IA já estão em uso no site corporativo e em diferentes chatbots internos e externos. À medida que a IA avança e os seus testes se consolidam, será inevitável que ela esteja presente na maioria das nossas interações com os clientes.

Qual prática de sustentabilidade da empresa o deixa mais orgulhoso? E como reduziu sua pegada de carbono pessoal?

Na Iberdrola, o que mais nos orgulha é nosso compromisso de longo prazo com a eletrificação como base da sustentabilidade. Nos últimos 25 anos, investimos cerca de 175 bilhões de euros em energias renováveis, redes inteligentes e armazenamento para eletrificar a economia e atender à crescente demanda.

Essa estratégia tem mostrado resultados: 100 milhões de pessoas abastecidas com energia limpa, segura e competitiva; em 2024, evitamos 23,13 milhões de toneladas de CO₂ e atingimos 84% de capacidade instalada livre de emissões, provando que as sustentabilidades econômica e ambiental podem avançar juntas. Além disso, foram realizadas compras anuais no valor de17 bilhões de euros a milhares de fornecedores, que sustentam 500 mil empregos; e 10 bilhões em contribuição fiscal anual que impulsiona o progresso social.

"No plano pessoal, reduzir minha pegada de carbono significa tomar decisões conscientes a cada dia, priorizando mobilidade de baixas emissões, hábitos eficientes em casa e consumo responsável"

Também lançamos um plano de investimento de 58 bilhões de euros para os próximos quatro anos para continuar avançando na eletrificação e na autonomia estratégica. A colaboração entre empresas e governos será fundamental para acelerar a ação climática e o cuidado com o meio ambiente.

No plano pessoal, reduzir minha pegada de carbono significa tomar decisões conscientes a cada dia: mobilidade de baixas emissões, hábitos eficientes em casa e consumo responsável. A sustentabilidade é um esforço coletivo e a trajetória da Iberdrola demonstra que grandes investimentos, combinados com a responsabilidade individual, podem construir um futuro mais verde e competitivo.

Quais são os principais desafios que os líderes do setor energético enfrentam atualmente?

Os líderes do setor enfrentam um triplo desafio: 

  • Acelerar a transição energética, mantendo a segurança do fornecimento e a acessibilidade. Integrar capacidade renovável em grande escala, eletrificar o transporte e a indústria e reduzir as emissões requer uma coordenação sem precedentes.
  • Modernizar a infraestrutura para tornar as redes mais inteligentes, robustas e digitais. As redes devem evoluir em paralelo com a infraestrutura digital para permitir uma gestão baseada em IA, flexibilidade e resiliência.
  • Gerenciar a incerteza e os riscos sistêmicos, desde a volatilidade dos mercados e tensões geopolíticas até ameaças cibernéticas e impactos climáticos, garantindo ao mesmo tempo o fluxo de investimentos e a estabilidade regulatória.

O grande desafio não é apenas técnico, é estratégico: construir um sistema energético resiliente, competitivo e digitalizado que sustente a liderança industrial europeia e libere inovação e competitividade.

Como seus especialistas abordarão esses desafios no Enlit Europe em Bilbao?

No Enlit Europe, em Bilbao, nossos especialistas mostrarão como a Iberdrola enfrenta os desafios da transição energética por meio da inovação, do investimento e da colaboração. Focaremos em quatro áreas estratégicas:

  • A eletrificação como base da competitividade, segurança e crescimento econômico: a demanda global por eletricidade dobrará nos próximos quinze anos devido ao transporte, climatização, digitalização e IA. A eletrificação é fundamental e cada país deve impulsioná-la com fontes de energia locais para garantir autonomia estratégica e competitividade.
  • Acelerar os investimentos em redes e digitalização: explicaremos como os investimentos antecipados em redes inteligentes e armazenamento são essenciais para integrar as energias renováveis e permitir uma gestão baseada na IA. A Europa precisa de 1,2 trilhão de euros em redes, o que exige retornos atrativos e um marco regulatório que incentive o investimento. Também é crucial reduzir as barreiras administrativas e agilizar os processos de licenciamento, uma vez que a burocracia atrasa por anos projetos que poderiam ser concluídos em pouco mais de um ano.
  • Políticas estáveis e tributação racional: defenderemos a necessidade de regulamentações previsíveis e incentivos para atrair capital de longo prazo. Uma tributação racional e a eliminação de regimes assimétricos que favorecem os combustíveis fósseis são fundamentais para acelerar a transição.
  • Talento e capacidades para o futuro: abordaremos a transformação do talento, com requalificação em grande escala, promoção de perfis híbridos que combinem capacidades digitais e conhecimento do setor e maior colaboração com universidades para garantir um fluxo bidirecional de talento.

O Enlit será a plataforma para demonstrar que a transição energética não é apenas uma mudança tecnológica, mas uma oportunidade estratégica para a competitividade, a sustentabilidade e a criação de emprego na Europa.